domingo, 17 de fevereiro de 2019

*Unicidade*




Espero pela benção do tempo, na sublimidade dos dias,
Na graça perfeita do amor sentenciado em palavras,
No gorjeio dos pássaros em revoada,
À procura de terra firme, num pouso delicado.

Anseio pelo ressurgimento de Órion,
Abrigo certo da mais pura luz em divindade,
Com a delicadeza macia que trazes em teus olhos,
Quando me cercas, alheia e frágil, de mãos postas em afago.

Trago no peito a saudade que encurta distâncias,
Que rega o solo árido das ausências, da solidão uniforme,
E que de tanta espera, morre ao longo dos dias, sucumbe,
Ressurgindo além, onde te encontras em contemplação.

Displicentemente leviana, deixo-me tocar pelos teus anseios,
Pelos teus sinais sublimados no coração,
Quando surges ao raiar do dia,
Quando sopras em minh’alma a tua confissão,
Quando falas d’uma eternidade ao alcance dos dedos.

Livre.

Inequívoco.

Pela estação que deve ser.

Sem razão aparente dos "porquês",
Sem motivo algum das explicações, do que não foi.

Subsiste.

E é...
Como sempre deveria ter sido.

E enquanto a minha metade desacompanhada,
Dista de ti por apenas um sopro renascente,
A tua metade,
Errante,
Submerge em meu silêncio,
Fazendo-me Única,
Dentre todas as possibilidades...




"Amor é isto: a dialética entre a alegria do encontro e a dor da separação. De alguma forma a gota de chuva aparecerá de novo, o vento permitirá que velejemos de novo, mar afora.
Morte e ressurreição. Na dialética do amor, a própria dialética do divino.
Quem não pode suportar a dor da separação, não está preparado para o amor. Porque o amor é algo que não se tem nunca. É evento de graça.
Aparece quando quer, e só nos resta ficar à espera. E quando ele volta, a alegria volta com ele. E sentimos então que valeu a pena suportar a dor da ausência, pela alegria do reencontro".

Rubem Alves

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