domingo, 17 de fevereiro de 2019

*Um Poema*



“Quisera poder amar-te e repetir-te dentro de mim,
Num verso escrito por ti.
Infinitamente.
Por não saber das palavras que pretendes usar,
Torno-me,

 em ti, Um Poema”.


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Roubaste um pedaço do meu corpo.
E guardaste a estação outonal do meu amor em palavras.

Deixaste em mim o paladar das entregas, sem receios.
Pedaços de desejos à espera de uma tarde de sol.

Uniste a loucura da minha face ruborizada,
À da tua mão colada à minha. Intencionalmente.

Fechaste os olhos à minha timidez,
Quando nua não pude negar-te sentimentos.

Largaste-me a falar sozinha,  em noite fria de desolação.
Quebraste tudo. Em pequenas partes.

Mas por certo não levaste a minha sublime devoção.

*Há nos olhos um brilho de Lua*


É lá, onde um raio de luz  toca o infinito,
Que meu abraço abraça o azul irreverente do mar.

Da fonte donde brotam  águas vivas,
Tenho como presente a perfeita nitidez de que,
Se pudéssemos ser um ponto que brilha, na escuridão,
Teríamos como atravessar tantos desertos.

Mas não vivo apenas para contemplar estes mistérios.

Sou um vasto espaço dentro de mim mesmo,
 A observar  certos deuses que,  por ora, não ousam  dos céus descer.

Descubro que chorar as incertezas,
É caminho longo de exaustão.

Seja fora do céu, ou fora da terra,
Ainda há um brilho de lua, no olhar.

E passo a acreditar, que o Paraíso,
Não é apenas um lugar.

É a minha própria alma, procurando  onde aportar.



*Impressões Rasgadas pelo Tempo*




A pele anda esfolada de tanto sangrar.
Paira nos lábios todos os salmos lidos,
Resistindo a fé, caminhante do tempo,
Combalida d’um antigo saber, onde as palavras teimam em vingar.

Impressões que voam dentro do pensamento,
Enrugando os joelhos que vergam,
Abalando um vento pueril que resiste,
Sem qualquer piedade, num entorpecimento.

O frio do gosto amargo de outrora,
Entrelaça a cegueira na primeira curva do peito,
Na linha tênue da esperança almejada,
No esquecimento do muro linear coberto pela hera.


Tornei-me incessante na busca d’uma compreensão Soberana,
Tateando as promessas ilusórias,
Na sombra irreverente d’um coração caído,
Falseando o sol, a cada gesto, a cada lágrima borrada de tinta.

Escuto tímida, o sussurro liberto das folhas,
A cascata que jorra, no espaço da minha fala.
E na grandiosidade dest’ alma súplice,
Torno-me caule ressequido, sedento pela calma.

Sinto que me envergo, quase até o chão, tateando o pó,
Alimentando-me do fel, que rasga a garganta em nó.
Mas a ilusão acorda comigo sorrindo,
E fica na janela a marca das estrelas sempre brilhando.

Para aqueles que resistem no silêncio,
À procura do Verbo, mais que Divino, sem temer,
Fica a timidez desta forma diferente de clamar,
Fica a insensatez bendita de tanto esperar,
E fica essa forma imensurável de conjugar o verbo Sobreviver.



*Unicidade*




Espero pela benção do tempo, na sublimidade dos dias,
Na graça perfeita do amor sentenciado em palavras,
No gorjeio dos pássaros em revoada,
À procura de terra firme, num pouso delicado.

Anseio pelo ressurgimento de Órion,
Abrigo certo da mais pura luz em divindade,
Com a delicadeza macia que trazes em teus olhos,
Quando me cercas, alheia e frágil, de mãos postas em afago.

Trago no peito a saudade que encurta distâncias,
Que rega o solo árido das ausências, da solidão uniforme,
E que de tanta espera, morre ao longo dos dias, sucumbe,
Ressurgindo além, onde te encontras em contemplação.

Displicentemente leviana, deixo-me tocar pelos teus anseios,
Pelos teus sinais sublimados no coração,
Quando surges ao raiar do dia,
Quando sopras em minh’alma a tua confissão,
Quando falas d’uma eternidade ao alcance dos dedos.

Livre.

Inequívoco.

Pela estação que deve ser.

Sem razão aparente dos "porquês",
Sem motivo algum das explicações, do que não foi.

Subsiste.

E é...
Como sempre deveria ter sido.

E enquanto a minha metade desacompanhada,
Dista de ti por apenas um sopro renascente,
A tua metade,
Errante,
Submerge em meu silêncio,
Fazendo-me Única,
Dentre todas as possibilidades...




"Amor é isto: a dialética entre a alegria do encontro e a dor da separação. De alguma forma a gota de chuva aparecerá de novo, o vento permitirá que velejemos de novo, mar afora.
Morte e ressurreição. Na dialética do amor, a própria dialética do divino.
Quem não pode suportar a dor da separação, não está preparado para o amor. Porque o amor é algo que não se tem nunca. É evento de graça.
Aparece quando quer, e só nos resta ficar à espera. E quando ele volta, a alegria volta com ele. E sentimos então que valeu a pena suportar a dor da ausência, pela alegria do reencontro".

Rubem Alves

*Do Destino do Mar*




aquele silêncio perpetuou-se,
assim que o olhar dos amantes
juraram promessas
e prometeram juras

no corpo, a presença de suspiros inaudíveis
e dos lábios, a ardência que navegou a esmo
entre  correntes de água farta
sem ter onde desaguar

em alto mar juntou-se,
lá, bem ao fim do horizonte,
o céu escarlate,  com nova terra à vista,
amenizando o  cruel destino

a cantarola da sereia emudeceu o navegante,
cegou a vista do timoneiro,
e o pirata assaltante, em meio a borrasca,
partiu, sem noção do destino que o aguardava,
antes mesmo,
de alçar as suas próprias velas...

*Confissões*




O poema, que hoje abraço,
Tem aquele perfume que pairava no ar,
Quando perdida em meio à noite,
Havia urgência de sonhos, dentro do peito.

Em mim, os dias são tão longos,
E os sóis tão descascados,
Que em minhas mãos já não cabem todas as pedras,
Com as quais arranhava  uma itinerante fantasia.

Ando a ermo,
Medindo a lonjura necessária,
Que dista entre a leveza da ternura,
E aquele breve encantamento, que perdeu a sua morada.

A pena (creio), não me serve mais.
A folha (branca) suplica por uma palavra.

E a alma...

A alma de prata vestiu-se,
E cambaleante alçou voo alheio,
À procura dum diminuto facho de luz,
Que (quiçá, )seja merecedor de um piedoso olhar.

*Álibi*


Porque vieste até mim,
Sem data ou hora marcada,
Confessando o inconfessável.

Recebi (talvez) pequenas migalhas,
Daquelas que alimentam pássaros perdidos,
Jogadas no calçamento das praças.

Esfolei  o sobrar da minha alma,
Retirando não sei exatamente o que,
Em tamanha grandiosidade,
Que o meu tempo tornou-se sem graça.

Porque vieste meio que do nada,
Sem ter algo para trazer-me,
E levaste tudo, da minha razão a perder-te.

Porque construíste entre meus dedos,
Poesia declaratória,
Versos de aconchego e luas de apreço.

Minha sagração de incertezas,
Provindo duma natureza viva e pulsante,
Condenou toda essa irrefutável história,
Entre o ficar deliberado  e o desastroso deixar culminante.

Álibi do esquecimento,
O legado que em ti existe,
Que agora partilho entre o pranto daquilo que não sei,
E a volatilidade do nada reter,
Dor que por sobre meus ombros, outrora carreguei.