domingo, 10 de novembro de 2019

*Amor: Duas vogais; Duas Consoantes*



Fico estirada no vazio, que pesa;
Sem ter bagagens, de mãos ocas,
Tento distribuir apenas o pão e o vinho,
Nesta liturgia não mais sagrada.

Contorço-me neste inverno que não chega,
Numa geleira que conserva este corpo,
Que há tempos,
Parece já ter ido embora.

Esqueci-me,
- e não quero mais,
Propagar meu vocabulário,
Que faz-me sentir uma dor desmantelada,
Um desassossego que causa-me pena e dó.

Duas vogais e duas consoantes.

Rabiscado num cinza confuso,
Nem eu mesma sei dizer para onde o caminho nos leva.

Sinto a queda acolher-me com carinho,
Daquilo que penso restar nesta vã existência.

O que pretendo enxergar,
Vislumbrado através das grades,
Eu não ouso nem mesmo explicar.

Perco palavras,
Misturo letras.

Pressinto na paisagem ilusória,
Que estas duas vogais e duas consoantes,
São lascas pontiagudas,
- Que nos castigam,
- Que acenam adeus,
- E que rasgam a coragem que aos poucos se esvai.

- Duas vogais.
- Duas consoantes.


Que sacodem lenços brancos,
Revestindo-nos de cansaço,
Negando até o poema que o pretende dizer.

São sobras perdidas,
Que ficam,

- Maltratam,


E que habitarão eternamente,

- Dentro de nós....



domingo, 3 de novembro de 2019

*Sem Pedir Permissão*




Sem pedir permissão,
Permito-me brincar,
- Por leviandade,
Dentro da firmeza do teu olhar.

Entro,
- Por inteiro,
Em tuas brincadeiras arrepiantes,
- Calando-me,
-(como se preciso fosse),
No momento exato do teu delírio.

Sem resistência ao teu íntimo perspicaz,
Sondo pelas pálpebras semicerradas,
Teu luxuriante prazer,
- agudo,
- destemido,
-(essa força masculina tão especialmente, tua...)

Minha lua abriu-te meus anseios,
- resultado de nossas somatórias,
- (quem disse que precisamos de cálculos matemáticos...)

O resultado de nossas conjunções corpóreas,
Concede-nos notas finais,
- com louvor.

Desdobro-me em tuas fantasias.

Rumo às estrelas que só teu céu me concede.

Tudo em mim pede pele,


- suor,


- languidez de movimentos,


- (poesia tua, fascinante...)

E para que saibas,
- pois segredos não há,

- Deixa-me dirigir-te,
- Neste teu desvairado incitamento!!!


*Êxtase em Euforia*



Tamanho êxtase é este,

Que de tuas mãos brotam.

É a pele.

- Na pele.

Bocas em única melodia.

Desejos sem falsa alegoria.

Segredos que nada segredam.

- Exclusivo,

- Transbordante,

- Preenchido.

Num passeio visceral,

Desdobram-se todos os véus,

Atinge-se as profundezas da Terra,

- Até o Céu...

Na palidez da meia luz,

Neon da tua ira.

O hálito fresco que inebria,

- Que inspira versos,

- Que salga a nuca.

E que invade toda santa indecência...

No corpo branco,

Feito lisa neve,

O veludo de carícias pede calor,

- Ardor,

- Atiçado  e miraculoso torpor.

- Toma-me à beira desta loucura.

- Trisca os dentes,

- Ofega!

- Mira meus olhos....

Líquido viscoso.

- Esperado...

- Derramado.....

- Na taça da minha euforia!



*Importa que seja dia ou noite?*




Corpo tingido de vinho tinto
- sorvido em taça de cristal
- acariciada em sua borda,
- refletindo sons da minha música favorita:
- Tua boca soltando ferocidades.

Adormeço embriagada de imagens,
- Tuas,
- Vontades nuas.

Prato ao lado,
- De morangos silvestres,
- Que afagam meu lábios,
- (como sabes fazer tão bem...)

- Água borbulhante
- rebentando da tua nascente
- orvalho de tuas carícias
- na branca flor da minha intimidade

Mãos crispadas
passeantes de luxúrias,
- ao toque do teu movimento...!

- Braços abertos
- contornando teu peito
- (Ahhh...perfume inigualável da tua presença!)

No dorso do teu ser,
O lume do sol,
- nas pupilas dos meus olhos semicerrados.

- Não durmas!
- Amanheças adentrando em minha súplica
- neste querer insano.

- É dia?
- É noite?
- importa? ...

Sinta-me não apenas em lembranças,

- mas neste poema que desenhei...


- na curvatura dos meus flancos...

- Apenas para ti...!




*Côncavo e Convexo*



Nas palmas de tuas mãos,
mistérios talhados pela noite
quando assaz me olhas
em estado onírico
e em murmúrios me encontras.

Não sem querer,
ao assaltares meus lábios frementes,
o contorno de minha retina suspira pulsares.

O rasgar do corpo
o prorromper da alma
trazendo sismos despidos
e estremecimentos gota por gota.

Palmilho cada segundo gesticulado
em acentuadas vontades
mãos suadas na pressa do que se quer.

Em silêncio aveludado
inebriante é o perfume espargido
e caminhas livre por toda nudez consentida
cegando toda lasciva resistência.

O nexo de tudo
- sentidos e desejos permitidos
- curvas de minha carne pelas alturas.

...Côncavo

...Rescaldo sequioso

...Aflorado no convexo.



sexta-feira, 4 de outubro de 2019

*Ao teu domínio*



Decerto a solidão amanhece,
E retenho em minha escrita voraz,
Este fogo febril,
- Tirado da tua língua acesa.

Guardo em meu corpo,
Tua insanidade que me mantém cativa.
- Ao teu domínio,
- Ao teu poder.

Tu podes me alcançar,
Entre gestos fortes,
- Delirantes,
Saboreando os meus desejos,
- Que a ti pertencem.

Pelo meu ventre adentras,
Nas entrelinhas de olhares que chamam.
- Nos dedos assinas declaração da tua posse,
- E do teu querer,
- Consonante ao meu.

É na tua boca,
Que entrego a saudade,
- Desejo e fúria.
- Desmedida luxúria

E meu corpo dança,
Num bailado em frêmito.

Somente tu podes conceber,
- Sorver em extasia.

- Puro mel,
Que em taça única, de fino cristal,

- Adorna e adoça o teu paladar.




*Sagrado*


Do lado oposto do silêncio,
- Tão meu companheiro,
É Sagrado vislumbrar o toque de mãos cálidas,
Que sustentam esta forma ardente e voraz,
De sobreviver...

Presas estão as promessas veladas,
Sussurradas ao som da meia noite,
Quando o corpo descansa em lençóis emaranhados.

Devoro todos os segundos e me lanço em memórias,
Como pequeninos pontos de luz,
Espargidos pelo céu e, fatalmente,
Anoitece...

- Sempre anoitece dentro de mim...

Sem reconhecimento de lugares e imagens,
Solto-me em fantasias – pueris,
Mas que, de sobremaneira, são muito mais doces que o sabor de caramelo,
Que lambuzam os dedos...
- E tantos desejos...

Revivo aquele azul cobalto intenso,
De mil estrelas por testemunha,
Desta hora marcada - e exata,
Em que nada seria mais perfeito,
Que o próprio amor perfeito.

Ainda restam janelas abertas ao vento.

E mesmo que o sonho ainda não reconheça o caminho por onde anda,
E todas as verdades sejam inverossímeis neste pequeno espaço,
-Tão meu,
É Sagrado o despontar da claridade do dia,
- E a presença sutil que me trazes e que me alegra.

É Sagrado.

É Santo e é demasiado Bendito,
Todos estes meus passos,

Que me levam para dentro dos teus olhos...


*Momentos*



Não são apenas momentos.

São tons púrpuros da minha pele, que em teus breves apelos,
Reluzem...
São sons perpétuos, dentro da minh’alma,
Onde todos os meus anseios,
Sobrevivem...

É a verdade que em teu solo sagrado, se desnuda.
Desta infinita sentença afetiva, que nunca muda.

Não são apenas momentos.

São clamores do teu amor bendito,
Num solo fincado em dor, (ah! tempo de outrora),
Nunca e jamais esquecido.
São palavras insanas do teu olhar profundo,
Que revestido em meu céu dourado, tudo revelam.
Entre conexões de almas, que sempre se completam.

Não são apenas momentos.

É o meu eu,
Curvado à esperança do teu.
É a tua voz, que o meu nome sempre pronuncia,
Pela manhã e arrastado até o final do dia.

Não são apenas momentos.

Somos nós,
Desatando os nós,
Proclamando a tua presença tão distante,
Onde o tudo, seja talvez o nada, sussurro borbulhante.
É o lado oculto da outra face dum poema.
Que em meu peito arde e queima.

É a tua santidade que paira no ar...

Trazendo-me a paz.

Para que em teus sonhos,
Infinitamente,
Eu possa, num dia esplendoroso,


Finalmente, descansar....


*Embriaguez*




Sorvo cada pedaço teu,
- Presente em toda palavra tua,
- Entrecortada em teu gesto insinuado.

Vens assim,
- Em nuas vontades,
Letra por letra,
- Enlaçando meu abraço,
- Roubando todos os meus lados.

Leio e releio,
- As tuas intimidades.
- A cada pausa,
- Em cada suspiro cobiçado.

Maestro de mãos prazerosas,
- Desde o ventre aflorado até a boca farta.

- A pele urge em desvendar-te,
- Saber-te apenas por uma letra:
- Frenesi d’uma única composição.

Arfante de minhas memórias,
Embriagada fico,
- No vai e vem da tua saliva licorosa!

Devota de todo o teu querer,
- Da tua cupidez irrefreável.
- Paladar insaciável.


- És, também, toda minha despida,

- Aveludada,

- E esboçada ousadia...!!!




domingo, 10 de março de 2019

*Corpo Nu*


Nada mais quero que a singeleza do teu abraço,
Neste meu corpo nu e santo que a ti faz-me devota.

Tua verve poética enaltece os meus lábios molhados,
E teu jeito imperdoável me transfigura as vestes,
Que se rasgam e se abrem às tuas confissões.

Fica subtendido entre as tuas palavras e o meu silêncio,
Todos os desejos incontestáveis,
Que há tempos distanciaram-se de nós.

O poema, então, é cantado a cada vontade,
A cada olhar nosso, que deságua até o momento final.

Torno-me confessa em minhas divagações,
Ao cerrar a porta desse local único:
Nosso momento esperado.

E quando vais, sem olhares para trás,
Sem sequer dizer “até qualquer dia”,
Meu sorriso se espalha pelo canto da boca.
E os meus olhos em brilho,
Anotam o endereço da tua malandragem.

Teu retorno é o meu presente.
O teu beijo...
A marca de tudo aquilo que ainda não foi confessado.

És assim. Jeito perfeito,
Que eu reverencio...!!!


domingo, 17 de fevereiro de 2019

*Um Poema*



“Quisera poder amar-te e repetir-te dentro de mim,
Num verso escrito por ti.
Infinitamente.
Por não saber das palavras que pretendes usar,
Torno-me,

 em ti, Um Poema”.


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Roubaste um pedaço do meu corpo.
E guardaste a estação outonal do meu amor em palavras.

Deixaste em mim o paladar das entregas, sem receios.
Pedaços de desejos à espera de uma tarde de sol.

Uniste a loucura da minha face ruborizada,
À da tua mão colada à minha. Intencionalmente.

Fechaste os olhos à minha timidez,
Quando nua não pude negar-te sentimentos.

Largaste-me a falar sozinha,  em noite fria de desolação.
Quebraste tudo. Em pequenas partes.

Mas por certo não levaste a minha sublime devoção.

*Há nos olhos um brilho de Lua*


É lá, onde um raio de luz  toca o infinito,
Que meu abraço abraça o azul irreverente do mar.

Da fonte donde brotam  águas vivas,
Tenho como presente a perfeita nitidez de que,
Se pudéssemos ser um ponto que brilha, na escuridão,
Teríamos como atravessar tantos desertos.

Mas não vivo apenas para contemplar estes mistérios.

Sou um vasto espaço dentro de mim mesmo,
 A observar  certos deuses que,  por ora, não ousam  dos céus descer.

Descubro que chorar as incertezas,
É caminho longo de exaustão.

Seja fora do céu, ou fora da terra,
Ainda há um brilho de lua, no olhar.

E passo a acreditar, que o Paraíso,
Não é apenas um lugar.

É a minha própria alma, procurando  onde aportar.



*Impressões Rasgadas pelo Tempo*




A pele anda esfolada de tanto sangrar.
Paira nos lábios todos os salmos lidos,
Resistindo a fé, caminhante do tempo,
Combalida d’um antigo saber, onde as palavras teimam em vingar.

Impressões que voam dentro do pensamento,
Enrugando os joelhos que vergam,
Abalando um vento pueril que resiste,
Sem qualquer piedade, num entorpecimento.

O frio do gosto amargo de outrora,
Entrelaça a cegueira na primeira curva do peito,
Na linha tênue da esperança almejada,
No esquecimento do muro linear coberto pela hera.


Tornei-me incessante na busca d’uma compreensão Soberana,
Tateando as promessas ilusórias,
Na sombra irreverente d’um coração caído,
Falseando o sol, a cada gesto, a cada lágrima borrada de tinta.

Escuto tímida, o sussurro liberto das folhas,
A cascata que jorra, no espaço da minha fala.
E na grandiosidade dest’ alma súplice,
Torno-me caule ressequido, sedento pela calma.

Sinto que me envergo, quase até o chão, tateando o pó,
Alimentando-me do fel, que rasga a garganta em nó.
Mas a ilusão acorda comigo sorrindo,
E fica na janela a marca das estrelas sempre brilhando.

Para aqueles que resistem no silêncio,
À procura do Verbo, mais que Divino, sem temer,
Fica a timidez desta forma diferente de clamar,
Fica a insensatez bendita de tanto esperar,
E fica essa forma imensurável de conjugar o verbo Sobreviver.



*Unicidade*




Espero pela benção do tempo, na sublimidade dos dias,
Na graça perfeita do amor sentenciado em palavras,
No gorjeio dos pássaros em revoada,
À procura de terra firme, num pouso delicado.

Anseio pelo ressurgimento de Órion,
Abrigo certo da mais pura luz em divindade,
Com a delicadeza macia que trazes em teus olhos,
Quando me cercas, alheia e frágil, de mãos postas em afago.

Trago no peito a saudade que encurta distâncias,
Que rega o solo árido das ausências, da solidão uniforme,
E que de tanta espera, morre ao longo dos dias, sucumbe,
Ressurgindo além, onde te encontras em contemplação.

Displicentemente leviana, deixo-me tocar pelos teus anseios,
Pelos teus sinais sublimados no coração,
Quando surges ao raiar do dia,
Quando sopras em minh’alma a tua confissão,
Quando falas d’uma eternidade ao alcance dos dedos.

Livre.

Inequívoco.

Pela estação que deve ser.

Sem razão aparente dos "porquês",
Sem motivo algum das explicações, do que não foi.

Subsiste.

E é...
Como sempre deveria ter sido.

E enquanto a minha metade desacompanhada,
Dista de ti por apenas um sopro renascente,
A tua metade,
Errante,
Submerge em meu silêncio,
Fazendo-me Única,
Dentre todas as possibilidades...




"Amor é isto: a dialética entre a alegria do encontro e a dor da separação. De alguma forma a gota de chuva aparecerá de novo, o vento permitirá que velejemos de novo, mar afora.
Morte e ressurreição. Na dialética do amor, a própria dialética do divino.
Quem não pode suportar a dor da separação, não está preparado para o amor. Porque o amor é algo que não se tem nunca. É evento de graça.
Aparece quando quer, e só nos resta ficar à espera. E quando ele volta, a alegria volta com ele. E sentimos então que valeu a pena suportar a dor da ausência, pela alegria do reencontro".

Rubem Alves

*Do Destino do Mar*




aquele silêncio perpetuou-se,
assim que o olhar dos amantes
juraram promessas
e prometeram juras

no corpo, a presença de suspiros inaudíveis
e dos lábios, a ardência que navegou a esmo
entre  correntes de água farta
sem ter onde desaguar

em alto mar juntou-se,
lá, bem ao fim do horizonte,
o céu escarlate,  com nova terra à vista,
amenizando o  cruel destino

a cantarola da sereia emudeceu o navegante,
cegou a vista do timoneiro,
e o pirata assaltante, em meio a borrasca,
partiu, sem noção do destino que o aguardava,
antes mesmo,
de alçar as suas próprias velas...

*Confissões*




O poema, que hoje abraço,
Tem aquele perfume que pairava no ar,
Quando perdida em meio à noite,
Havia urgência de sonhos, dentro do peito.

Em mim, os dias são tão longos,
E os sóis tão descascados,
Que em minhas mãos já não cabem todas as pedras,
Com as quais arranhava  uma itinerante fantasia.

Ando a ermo,
Medindo a lonjura necessária,
Que dista entre a leveza da ternura,
E aquele breve encantamento, que perdeu a sua morada.

A pena (creio), não me serve mais.
A folha (branca) suplica por uma palavra.

E a alma...

A alma de prata vestiu-se,
E cambaleante alçou voo alheio,
À procura dum diminuto facho de luz,
Que (quiçá, )seja merecedor de um piedoso olhar.

*Álibi*


Porque vieste até mim,
Sem data ou hora marcada,
Confessando o inconfessável.

Recebi (talvez) pequenas migalhas,
Daquelas que alimentam pássaros perdidos,
Jogadas no calçamento das praças.

Esfolei  o sobrar da minha alma,
Retirando não sei exatamente o que,
Em tamanha grandiosidade,
Que o meu tempo tornou-se sem graça.

Porque vieste meio que do nada,
Sem ter algo para trazer-me,
E levaste tudo, da minha razão a perder-te.

Porque construíste entre meus dedos,
Poesia declaratória,
Versos de aconchego e luas de apreço.

Minha sagração de incertezas,
Provindo duma natureza viva e pulsante,
Condenou toda essa irrefutável história,
Entre o ficar deliberado  e o desastroso deixar culminante.

Álibi do esquecimento,
O legado que em ti existe,
Que agora partilho entre o pranto daquilo que não sei,
E a volatilidade do nada reter,
Dor que por sobre meus ombros, outrora carreguei.