terça-feira, 1 de setembro de 2020

*Florescer*


Ouço canções nas rádios,

E chego a tempo para tocar no lápis e no papel,

Bem antes do sono me dominar.

 

Penso em tudo aquilo que é possível falar.

Sei que não preciso sonorizar uma palavra sequer.

Calo-me.

Interiorizo-me.

O silêncio diz tantas coisas...

O pensamento ainda mais...

 

Meu voo...

 

Escalo montanhas escarpadas.

E pouso.

Pouso onde tudo está neste momento.

 

De olhos fechados,

Vislumbro o que para tantos é irreal.

Louco.

Sobremaneira desvairado.

 

A mente – concordância e confirmação,

Sabe do florescer de Abril.

Constata o "outonar" das folhas secas.

 

Não há razões para "invernar"

Apesar da beleza da neve.

Ou do gelar em que ficam as minhas mãos.

 

Sigo "veraneando", no calor do astro rei

 

A dor.

A flor.

O ardor.

O Criador...

 

Danço o bolero de Ravel,

Com a minha própria alma,

Ao embalo dos sons dos violinos.

Os pés tocando o mundo.

Leveza.

Compasso.

 

Em algum lugar além da razão, propriamente dita,

Todas as possibilidades são verossímeis.

Quem sabe isso possa ser... o Infinito!

 

Sei que adormeço.

Soletrando frases.

Fazendo o sonho acontecer,

Num misto de sorriso quieto,

De aceno de paz,

E de beijo escondido.

 

Beijo guardado,

Reservado,

Bem aqui,

 

Na palma da minha mão...


(Ao primeiro dia do mês de Agosto de 2020).


Angela Lazzari




domingo, 10 de novembro de 2019

*Amor: Duas vogais; Duas Consoantes*



Fico estirada no vazio, que pesa;
Sem ter bagagens, de mãos ocas,
Tento distribuir apenas o pão e o vinho,
Nesta liturgia não mais sagrada.

Contorço-me neste inverno que não chega,
Numa geleira que conserva este corpo,
Que há tempos,
Parece já ter ido embora.

Esqueci-me,
- e não quero mais,
Propagar meu vocabulário,
Que faz-me sentir uma dor desmantelada,
Um desassossego que causa-me pena e dó.

Duas vogais e duas consoantes.

Rabiscado num cinza confuso,
Nem eu mesma sei dizer para onde o caminho nos leva.

Sinto a queda acolher-me com carinho,
Daquilo que penso restar nesta vã existência.

O que pretendo enxergar,
Vislumbrado através das grades,
Eu não ouso nem mesmo explicar.

Perco palavras,
Misturo letras.

Pressinto na paisagem ilusória,
Que estas duas vogais e duas consoantes,
São lascas pontiagudas,
- Que nos castigam,
- Que acenam adeus,
- E que rasgam a coragem que aos poucos se esvai.

- Duas vogais.
- Duas consoantes.


Que sacodem lenços brancos,
Revestindo-nos de cansaço,
Negando até o poema que o pretende dizer.

São sobras perdidas,
Que ficam,

- Maltratam,


E que habitarão eternamente,

- Dentro de nós....



domingo, 3 de novembro de 2019

*Sem Pedir Permissão*




Sem pedir permissão,
Permito-me brincar,
- Por leviandade,
Dentro da firmeza do teu olhar.

Entro,
- Por inteiro,
Em tuas brincadeiras arrepiantes,
- Calando-me,
-(como se preciso fosse),
No momento exato do teu delírio.

Sem resistência ao teu íntimo perspicaz,
Sondo pelas pálpebras semicerradas,
Teu luxuriante prazer,
- agudo,
- destemido,
-(essa força masculina tão especialmente, tua...)

Minha lua abriu-te meus anseios,
- resultado de nossas somatórias,
- (quem disse que precisamos de cálculos matemáticos...)

O resultado de nossas conjunções corpóreas,
Concede-nos notas finais,
- com louvor.

Desdobro-me em tuas fantasias.

Rumo às estrelas que só teu céu me concede.

Tudo em mim pede pele,


- suor,


- languidez de movimentos,


- (poesia tua, fascinante...)

E para que saibas,
- pois segredos não há,

- Deixa-me dirigir-te,
- Neste teu desvairado incitamento!!!


*Êxtase em Euforia*



Tamanho êxtase é este,

Que de tuas mãos brotam.

É a pele.

- Na pele.

Bocas em única melodia.

Desejos sem falsa alegoria.

Segredos que nada segredam.

- Exclusivo,

- Transbordante,

- Preenchido.

Num passeio visceral,

Desdobram-se todos os véus,

Atinge-se as profundezas da Terra,

- Até o Céu...

Na palidez da meia luz,

Neon da tua ira.

O hálito fresco que inebria,

- Que inspira versos,

- Que salga a nuca.

E que invade toda santa indecência...

No corpo branco,

Feito lisa neve,

O veludo de carícias pede calor,

- Ardor,

- Atiçado  e miraculoso torpor.

- Toma-me à beira desta loucura.

- Trisca os dentes,

- Ofega!

- Mira meus olhos....

Líquido viscoso.

- Esperado...

- Derramado.....

- Na taça da minha euforia!



*Importa que seja dia ou noite?*




Corpo tingido de vinho tinto
- sorvido em taça de cristal
- acariciada em sua borda,
- refletindo sons da minha música favorita:
- Tua boca soltando ferocidades.

Adormeço embriagada de imagens,
- Tuas,
- Vontades nuas.

Prato ao lado,
- De morangos silvestres,
- Que afagam meu lábios,
- (como sabes fazer tão bem...)

- Água borbulhante
- rebentando da tua nascente
- orvalho de tuas carícias
- na branca flor da minha intimidade

Mãos crispadas
passeantes de luxúrias,
- ao toque do teu movimento...!

- Braços abertos
- contornando teu peito
- (Ahhh...perfume inigualável da tua presença!)

No dorso do teu ser,
O lume do sol,
- nas pupilas dos meus olhos semicerrados.

- Não durmas!
- Amanheças adentrando em minha súplica
- neste querer insano.

- É dia?
- É noite?
- importa? ...

Sinta-me não apenas em lembranças,

- mas neste poema que desenhei...


- na curvatura dos meus flancos...

- Apenas para ti...!




*Côncavo e Convexo*



Nas palmas de tuas mãos,
mistérios talhados pela noite
quando assaz me olhas
em estado onírico
e em murmúrios me encontras.

Não sem querer,
ao assaltares meus lábios frementes,
o contorno de minha retina suspira pulsares.

O rasgar do corpo
o prorromper da alma
trazendo sismos despidos
e estremecimentos gota por gota.

Palmilho cada segundo gesticulado
em acentuadas vontades
mãos suadas na pressa do que se quer.

Em silêncio aveludado
inebriante é o perfume espargido
e caminhas livre por toda nudez consentida
cegando toda lasciva resistência.

O nexo de tudo
- sentidos e desejos permitidos
- curvas de minha carne pelas alturas.

...Côncavo

...Rescaldo sequioso

...Aflorado no convexo.



sexta-feira, 4 de outubro de 2019

*Ao teu domínio*



Decerto a solidão amanhece,
E retenho em minha escrita voraz,
Este fogo febril,
- Tirado da tua língua acesa.

Guardo em meu corpo,
Tua insanidade que me mantém cativa.
- Ao teu domínio,
- Ao teu poder.

Tu podes me alcançar,
Entre gestos fortes,
- Delirantes,
Saboreando os meus desejos,
- Que a ti pertencem.

Pelo meu ventre adentras,
Nas entrelinhas de olhares que chamam.
- Nos dedos assinas declaração da tua posse,
- E do teu querer,
- Consonante ao meu.

É na tua boca,
Que entrego a saudade,
- Desejo e fúria.
- Desmedida luxúria

E meu corpo dança,
Num bailado em frêmito.

Somente tu podes conceber,
- Sorver em extasia.

- Puro mel,
Que em taça única, de fino cristal,

- Adorna e adoça o teu paladar.