Tem um céu azul que me cobre a alma,
Feito manto sagrado de Nossa Senhora,
Que transforma essa angústia em benévola calma,
A dizer que a lágrima do fel há de ir embora.
Tem uma palmeira atrás do meu quintal,
Que sibila nas folhas verdes o som da minha paz,
A cantar nos ouvidos
que não é assim tão mal,
E que a dor que sinto é meramente fugaz.
Tem do outro lado um profundo precipício,
A chamar minh’atenção para a queda que não quero ver,
E que me mostra o corvo negro voando em funesto anúncio,
Com seu grito agourento, espalhando o poder.
Tem uma boca escancarada, feia e desdentada,
Que apunhala todo o meu ser sensível e bondoso,
Rasgando a esperança em cruel e insana bofetada,
Desmantelando a resistência no meu peito afetuoso.
Tem a alegria de uma mágica vida.
Tem a tristeza da provável ruína.
Tem as pétalas lindas da doce margarida.
Tem a lágrima cadente pela próxima fortuna.
São sempre os dois lados.
Amargurados.
E sentidos.
Por essa alma terna.
Ambos, nesse momento, vividos.
Coloco-me em fervorosa e total prece,
Pois o céu, nunca, de nada se esquece.
Não lamento a mudança do destino em sabedoria,
Sempre depois de uma noite chuvosa, renasce o dia.
Porque são sempre os dois lados.
Levando-me a um verdadeiro aprendizado.
Dois lados de uma mesma vida.
Dois lados de uma dor, pungente e sentida.
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