Hoje não há flores em minha janela.
Não tenho como abri-la,
Como destrancá-la,
Tampouco como enxergá-la.
Hoje não há cores em minh’alma.
Tentei pintá-la aos borrões.
Inventá-la.
Restaram somente suposições.
Hoje não há sons em minha voz.
A mudez escondeu-se atrás das pálpebras.
E o silêncio abraçou-me, a sós.
Dos olhos, lágrimas em abundante foz.
Hoje não há vento que sibile em meus sentidos.
Estarão todos eles perdidos?
Desolados ou...
Obscurecidos?
Fecho as portas.
Jogo a chave fora.
Cerro as cortinas.
E corto as cordas...
Resta-me a chuva fina.
Essa que cai,
Que se esvai,
Que sorri debochada e por aí...sai!
Hoje eu sei que não há flores em minha janela.
Somente as balelas.
(Dos tagarelas).
Os restos das pequenas quirelas,
Das minhas próprias mazelas.
Um débito que eu não tenho.
Um peso que nos ombros eu retenho.
Versos que nem sei se ainda componho.
Caminhos que percorro somente em desastroso sonho.
Um perdido caminhante.
Desolado e errante.
Indiferente.
Cruel sobrevivente.
Não!
Não reparem.
Não olhem.
E também não se importem.
Só porque hoje não há flores em minha janela!